Ecologia Humana – Introdução – Silvia M. G. Molina Professor Associado

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Ecologia Humana - Introdução - Silvia M. G. Molina Professor Associado - Lab. Ecologia Evolutiva Humana Departamento de Genética - ESALQ-USP

Ecologia Humana : Relações entre seres humanos e ambiente (BEGOSSI, 1993)

Ecologia Humana – origens Sociologia: Durkheim (Morfologia Social)/Spencer 1910 – 1940 : aprofundamento das bases teóricas para uma Teoria Sociológica de Sistemas Escola de Chicago: Park Modelo de Zonas Concêntricas (Burgess, 1925) 1950-1960 : estudos demográficos 1970 : enfoque interdisciplinar e ênfase em política ambiental (BEGOSSI, 1993) Ecologia Urbana: Escola de Chicago - Sociologia (início do século XX) -RENOVAÇÃO-

Epidemiologia Ecologia Humana - vertente europeia Centro Europeu de Ecologia Humana (Genebra) Periódico: Ecología Humana y Salud (OMS) Etnologia Social – escola de EH França Sociedades industriais e não industriais EUA ’50 Ecologia Antropologia Periódico: Human Ecology

Ecologia Social: relações econômicas sociais variáveis ambientais Psicologia Ambiental: . percepção ambiental . efeito de poluentes sobre o comportamento humano Também já se assumiu que toda a Geografia poderia ser considerada como Ecologia Humana Richerson (1977): Pode ser desenvolvida uma teoria em EH a partir de similaridades teóricas entre as ciências biológicas e as sociais (BEGOSSI, 1993)

Ex de outras associações para origem da EH: De acordo com STRATE e LUM (2006, p. 75) GEDDES foi o pai da ECOLOGIA HUMANA, e seu principal discípulo, MUMFORD foi o fundador da MEDIA ECOLOGY, herdando daquele métodos e âmbito de interesses.

Ecologia Humana / dentro da Ecologia: Ecologia de Sistemas Ecologia Evolutiva Ecologia Aplicada ou Demográfica Ecologia Evolutiva Humana: antropologia (ecologia cultural e etnobiologia) modelos de ecologia animal (teoria do forrageamento ótimo) modelos de evolução cultural (modelos de subsistência e transmissão cultural) [OBS: A ecologia cultural pode incluir as de sistemas e evolutiva] (BEGOSSI, 1993)

Ecologia Humana: Orientação teórica que enfatiza a resolução (compreensão) de problemas da cultura e do comportamento humano, desde a busca de alimentos aos sistemas de suporte social, bem como a vida política e religiosa Ênfase nos modos complexos pelos quais os seres Humanos moldam (influenciam) e são moldados (influenciados) pelo seu ambiente (SHUTKOWSKI, 2007, pp. 13-14 apud BATES; TUCKER, 2010)

Ecologia Evolutiva Humana (Ecologia Comportamental) - ecologia do comportamento humano Investiga as implicações dos modelos de seleção natural a atividades humanas tão diversas como: defesa territorial, gestão de propriedade comunal, padrões de forrageamento e escolhas de parceiros – com relação à expectativa de que “os indivíduos se comportem de tal maneira que seu sucesso reprodutivo pessoal e(ou) aptidão inclusiva seja maximizado” (SHUTKOWSKI, 2007, pp. 13-14 apud BATES; TUCKER, 2010) CONCEITO CENTRAL: ADAPTABILIDADE HUMANA

Evolução: MUDANÇA nas frequências de traços morfológicos, bioquímicos, comportamentais numa população Não há um caráter valorativo neste conceito Em geral, mas não necessariamente, é acompanhada de um aumento da complexidade

Como cientistas naturais, ecólogos estão interessados em três grandes questões: 1. Como o ambiente afeta o organismo? 2. Como o organismo afeta o ambiente? 3. Como um organismo afeta os outros organismos nos ambientes nos quais ele vive? Respostas da Ecologia: física (energia) e evolução (BATES; TUCKER, 2010)

Como cientistas naturais, ecólogos estão interessados em três grandes questões: 3. 1. Como o ambiente afeta o organismo? 2. Como o organismo afeta o ambiente? Como um organismo afeta os outros organismos nos ambientes nos quais ele vive? Respostas da Ecologia: física (energia) e evolução --------------------------------------------------------------------------------------Para responder a essas questões a ECOLOGIA HUMANA integra aspectos das disciplinas de antropologia, biologia, geografia, demografia, economia e outras disciplinas em busca de compreender as relações entre as pessoas e seus ambientes em termos daquelas três grandes questões acima apresentadas. (BATES; TUCKER, 2010)

Nesse contexto, tanto a dimensão temporal como os efeitos de mudanças históricas e influências externas são foco de estudo. Questão tradicional: Como os comportamentos adotados habilitam uma população a se manter em um ambiente específico? QUESTÕES ATUAIS: 1. Quais são os problemas enfrentados pela população local? 2. Como os atores individuais lidam com eles? (nem todos os membros de um grupo necessariamente partilham dos mesmos problemas/mesmos conhecimentos na mesma intensidade) (BATES; TUCKER, 2010)

Hábitat: área de vida Nicho: o que faz para manter a vida [o que come, quem dele se alimenta, como se defende, como se reproduz e cuida dos jovens] Humanos ocupam um nicho excepcionalmente grande, culturalmente construído Consequentemente vivem em uma gama excepcionalmente grande de hábitats Os nichos humanos podem ser rapidamente transformados, modificando desse modo, amplamente, relações interespecíficas (BATES; TUCKER, 2010)

Um outro aspecto continuamente relevante em estudos de Ecologia Humana é Como os humanos percebem a si mesmos, às outras pessoas e ao seu ambiente. Nós somos radicalmente afetados pelas nossas interpretações simbólicas e representações de nós mesmos e daqueles em torno a nós. (BATES; TUCKER, 2010)

Tema de estudos contemporâneos de EH: - - Como fazemos uso de ENERGIA TECNOLOGIA – aspecto estruturante da relação da sociedade com o ambiente PERCEPÇÃO - somos radicalmente afetados pelas nossas interpretações simbólicas e representações de nós mesmos e daqueles entorno a nós. - Trocas intraespecíficas: bens, serviços e informações - COOPERAÇÃO – INTERDEPENDÊNCIA (BATES; TUCKER, 2010)

Temas em Estudo no Laboratório de Ecologia Evolutiva Humana: . territorialidade/mudanças de uso da terra; . conhecimentos locais relativos ao uso de recursos naturais/ambiente; - percepção ambiental - adaptabilidade humana Pesquisador visitante: Dr. Manuel Cesario: . Adaptação às Mudanças Ambientais Globais (Uso da Terra e Clima) . Serviços Ambientais de Regulação de Doenças

Ecologia Humana dentro da Ecologia: Relação da humanidade com os recursos/ambiente Aspectos: Cognitivos Comportamentais De conservação (BEGOSSI, 1993)

Áreas de pesquisa relativamente mais bem definidas: 1. Etnobiologia 2. Sociobiologia e Coevolução Genes-Cultura 3. Psicologia Evolutiva 4. Economia Ecológica 5. Manejo e conservação (Gestão e Conservação) (BEGOSSI, 1993)

Ecologia Humana – referenciais teóricos: -Ecologia de Sistemas (Odum) - Ecologia Evolutiva/Ecologia de Populações (genética; Pianka) - Ecologia Cultural/Antropologia Ecológica (Steward/White) (R. Viertler/Valter Neves) - Etnobiologia (Posey/ Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia/SBEE) - Modelos de Subsistência (Lenski/Nolan) - Sociobiologia (Revista) (Wilson) - Modelos de Transmissão Cultural Também: - Media Ecology/Ecologia das Tecnologias (Meyrowitz, Postman, McLuhan) -Biologia Cultural (Maturana) (BEGOSSI, 1993)

Ao longo da pré-história e da história, Homo sapiens e suas sociedades têm utilizado de muitos mecanismos diferentes: genotípicos, fenotípicos, psíquicos e sociais com a finalidade de se adaptar a novas situações ambientais. Essa versatilidade biológica e social concorreu para o sucesso da espécie humana.

O ser humano já pode alterar tão profundamente seu ambiente e modificá-lo tão rapidamente em função de seus próprios objetivos, que há uma tendência a se acreditar que os mecanismos biológicos dos quais dependeu para sua adaptação no passado venham a ter importância cada vez mais reduzida, senão desprezível. Vêm-se inclusive assumindo que a espécie humana pode, sem perigo (!?), perder qualidades físicas e mentais que foram essenciais para sua sobrevivência no passado, uma vez que pode criar um ambiente no qual esses atributos não sejam mais necessários. - fragilidade /custos energéticos/ dos nichos construídos -

Não é possível para a seleção natural manter um estado de adaptabilidade a um ambiente que não existe mais, nem adaptar uma população a um ambiente que ainda não foi criado/ainda não existe. Por causa dos avanços tecnológicos, novos ambientes continuam a aparecer, a taxas aceleradas.

Para sobreviver nesse contexto, a humanidade dependerá cada vez mais de novas mudanças culturais e sociais, e se isto acontecer de forma irresponsável, poderá prejudicar ainda mais a qualidade de vida futura.

O potencial da espécie humana para sobreviver a aglomerações, miséria emocional, poluição ambiental, escassez de recursos e a outros tipos de ameaças constitui um dos aspectos limitantes do problema da adaptação. A vida humana envolve VALORES. Alguns desses valores têm pouca relação com as necessidades biológicas. Alguns transcendem a sobrevivência das pessoas individualmente. Soluções adaptativas tecnicamente possíveis podem ter um custo alto em termos de valores humanos.

Ex: o mesmo desenvolvimento tecnológico que possibilita a sobrevivência e reprodução de indivíduos menos aptos geneticamente, determina a acumulação de defeitos hereditários. A vida moderna vem interferindo na eliminação de genes indesejáveis (que reduzem a adaptabilidade). Paradoxalmente o mais crítico aspecto da adaptação humana é sua própria adaptabilidade, que torna essa espécie capaz de se ajustar a condições e hábitos que eventualmente destruirão os valores mais característicos da própria vida humana.

O ponto de vista estritamente biológico é inadequado para a vida humana porque não é suficiente para abarcar a complexidade da natureza humana. Singularidade da humanidade: ela não vive só no presente ainda contém o passado em seu corpo e em sua mente e está preocupada com o futuro. Acima de tudo é preciso considerar que a humanidade não pode romper sua ligação com a Terra e com sua base biológica, da qual emergiu e que ainda a alimentam física e emocionalmente.

Em estudos de Ecologia Humana, pode-se constatar alto nível de cooperação entre as sociedades humanas e a Terra com suas forças naturais. Mas para que exista cooperação, é necessário um humano "ecológico", num sentido mais amplo, uma humanidade que preserve as características da Terra, não uma humanidade que se desenvolva sem metas conscientes, construtivas, inclusive porque ao destruir o ambiente, a própria humanidade morrerá também.

Todas as culturas humanas na Terra sempre foram destrutivas em relação ao ambiente? Até que ponto?

ESTRATÉGIA MAXIMIN Povos de economia primitiva são avessos a assumir riscos durante a busca de recursos. Eles adotam estratégias que podem ser caracterizadas como MAXIMIN, as quais permitem que as táticas que eles empregam garantam um mínimo; o rendimento de alimentos necessário à manutenção da vida, a despeito de quão ruins tornem-se as condições durante as flutuações ambientais subsequentes. Consumiremos hoje apenas o necessário à nossa subsistência, de modo a garantir que haverá esse necessário amanhã também.

Por outro lado, as estratégias que garantem a possibilidade de rendimentos excepcionalmente grandes durante os anos bons, reduzem a média de rendimento nos outros anos. Consumirei o que quero hoje, quanto seja, mesmo que com isso não tenha nada para consumir amanhã (nesse local). (Estratégias MAXIMAX)

Na estratégia MAXIMIN as pessoas investem trabalho nos processo produtivos apenas o suficiente para manter os níveis satisfatórios de consumo, tal como determinado culturalmente. Na maioria das sociedades de caçadores-coletores e sociedades agrícolas primitivas, estes níveis permanecem próximos ao MAXIMIN. Como resultado, muitas dessas sociedades estão bem abaixo do rendimento energético potencial.

Entretanto, sociedades MAXIMAX, que permitem temporariamente a elevação do tamanho de sua população, veem-se forçadas a expandir territórios e a explorar sempre novas fontes de energia. Isso gera, um feedback positivo, que permite que esta população continue crescendo, mas por um tempo limitado, e este processo todo tenderá a gerar um dano ambiental muito severo.

Em muitos casos, o dano ambiental causado destrói a própria capacidade de sustentação do processo, resultando no colapso dessa sociedade. O que não implica, necessariamente, no colapso da estratégia MAXIMAX, já que seres humanos envolvidos podem atribuir os acontecimentos a outros motivos e evitarem a autocrítica.

BIBLIOGRAFIA BATES, D.G.; TUCKER, J. (eds.) Human Ecology contemporary research and practice. US: Springer-Verlag, 2010, p. 1-21. BEGOSSI, A. (org.) Ecologia de Pescadores da Mata Atlântica e da Amazônia. São Paulo: Hucitec: NEPAM/Unicamp: Nupaub/ USP: Fapesp, 2004. 332 p. (pág 13-34). BEGOSSI, A. Ecologia Humana: um enfoque das relações homem-ambiente. Interciência 18(3): 121-132, 1993. BENNETH, T. (Dir/Escr.) “What a way to go: Life in the end of the Empire. (2007), VisionQuest Pictures. DIAMOND, J. Colapso – Como as Sociedades optam entre o fracasso e o sucesso. Ed. Record, 2005 MOLINA, S.M.G.; LUI,G.H.; PIVA-SILVA, M. Ecologia Humana como referencial teórico e metodológico para Gestão Ambiental. OLAM (Rio Claro), 7(2):19-40, 2007. [SHUTKOWSKI, H. Biocultural Adaptations in Human Communities (Ecological Studies). US: Springer, 2007. 305 p.] STRATE, L.; LUM, C.M.K. Lewis Mumford and the ecology of technics. In: Lum, C.M.K. (ed.) Perspectives on culture, technology and communication - the media ecology tradition. Cresskill, NJ: Hampton Presse, Inc. 2006, 421 p. (p. 71-95)

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